I Congresso (4/4)

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Intervenção do representante da Internacional Humanista

Emílio RubioSão preocupações importantes da Internacional Humanista algumas coisas que já se disseram aqui. A plena implementação dos Direitos Humanos, a democracia real que substitua a democracia formal instalada que já perdeu todo o seu crédito; a implementação de um novo modelo económico no aparelho produtivo que situe verdadeiramente o ser humano como referência, em vez do dinheiro; e o desastre ecológico que aumenta dia após dia. Mas para além disto, para o qual o PH lança as suas propostas, a Internacional tem outras preocupações que implicam a degradação da vida de milhões de pessoas.

1º Instituições supranacionais como são o FMI, o Banco Mundial, a Organização Mundial de Comércio, etc… cujas acções afectam a toda a humanidade. Estas instituições, longe de procurar as melhores condições de vida do ser humano, aproveitam-se como abutres de situações catastróficas para endividar a regiões do globo inteiras, sem que os povos afectados consigam saldar essas dívidas durante muitas décadas. Estas instituições começam a ser muito contestadas, mas entendamos o seu verdadeiro sentido: o seu verdadeiro sentido é engordar ao senhor império; mas acontece que é tal o grau de obesidade de este império, que começa a perder o equilíbrio, e o nosso temor é que quando caia da cadeira se agarrará à toalha e arruinará o banquete de todos.

2º O império está a modificar leis paulatinamente, transformando o sistema judicial de maneira a ir tornando “legal” a brutalidade que orienta a sua direcção.
Isto é o que está a suceder lá para o norte da América, onde, desde há vários anos, se estão a introduzir mudanças em questões ligadas ao direito dos cidadãos, aumentando o poder da polícia. As pessoas pensam que o objectivo é acabar com o delito, tratando-se de, por exemplo, que a polícia possa entrar nas casas dos delinquentes sem tantos entraves legais e intervenção dos juizes. O que ocorre é que as pessoas não sabem que isso prepara o terreno para sufocar qualquer tentativa de rebelião contra o sistema, e que, não só não vai travar o aumento da insegurança da delinquência e do narcotráfico, como tudo isso continuará a aumentar.

O problema com o império norte-americano, como com qualquer império ao longo da história, é que o que faz dentro das suas fronteiras, o “exporta” para o resto do mundo. Não é necessário que o império actue com as armas, pode influir e modificar a situação em qualquer lugar pressionando e orientando para que se mudem leis e o sistema jurídico em geral.

O preocupante de tudo isto, é que já se produziu muitas vezes na história.

Recentemente nos anos 30, no centro da Europa, um regime seguiu passo a passo aquilo que acabamos de descrever e produziu-se uma das maiores monstruosidades jamais vistas. Aliás, era um momento, tal como hoje, de uma forte crise económica, política e social na Europa.

Sei que não estou a dizer nada de novo, porque já sabemos todos o que estão a fazer as cúpulas, é muito clara a sua direcção.

E assim passaria ao terceiro ponto, não menos preocupante, que é a situação mental da população.
É muito curioso observar como as pessoas continuam a apoiar aqueles que as levaram, e continuam a levar, a situações sem saída. Isto mostra uma situação de confusão muito grande, um grande desconcerto nas pessoas.

E este é o ponto que nos faz pensar e actuar de forma diferente das velhas ideologias e velhos partidos. Hoje torna-se prioritário dar atenção ao social e simultaneamente à vertente existencial das pessoas, já que, definitivamente, os movimentos sociais não são um conceito, algo de etéreo, são justamente pessoas com uma situação quotidiana tal, que se sentem confusas por dentro, e nisso há que ajudar a população.

Para terminar, creio que o povo português tem muito mais qualidades do que pensa; tem uma suavidade e uma qualidade humana, entre outras muitas coisas, que são qualidades idóneas para empreender uma nova forma de estar do ser humano.

Uma forma de estar comprometida com o do lado, próxima e sem estridências próprias de outra época. Convido desde aqui os presentes a potenciar este projecto resgatando o melhor da história deste povo, que penso ter muito que contribuir para a construção da Nação Humana Universal.

Emilio Rubio


Intervenção do candidato às eleições presidenciais

Boa tarde a todos os congressistas, representantes de outros partidos, representantes de organizações e associações convidadas, imprensa e observadores.

Vou realizar a minha intervenção a partir de 3 ideias:

  1. A avaliação da situação actual da sociedade portuguesa.
  2. As propostas humanistas para as presidenciais.
  3. A não violência activa, como metolodogia de acção.

1.

O novo humanismo parte da existência humana viva e concreta para explicar o mundo, a sociedade e o homem. É a partir desta ideia que avaliamos a situação actual da sociedade em que vivemos.

Hoje experimentamos uma crise generalizada que afecta todos os sectores da vida humana. Podemos comprovar que as pessoas em geral não discordam sobre este momento histórico e sobre a avaliação daquilo que está bem ou mal. Apesar do aparente alheamento das questões políticas os portugueses conhecem bem a realidade que os rodeia.

Este sistema vai-se esvaziando de valores e impera a lógica do dinheiro. As instituições estão em crise, são maquinas pesadas e burocráticas. O sector empresarial é gerido em função de interesses multinacionais, avançando na direcção dos grandes monopólios, e promovendo a concentração e a especulação do capital financeiro internacional.

A banca não considera os seres humanos, mas o saldo médio acima dos 300 contos, cobra juros abusadores pelo que empresta e oferece nada quando recebe as poupanças do povo. As pessoas não contam, são números, consumidores, cidadãos, eleitores, e quando em conjunto são massas potencialmente perigosas que eventualmente se têm de reprimir.

O que é que vou adiantar e dizer de novo sobre o estado da saúde, da educação, da justiça, ou sobre a hipocrisia da política de estrangeiros ou sobre o crescente endividamento das famílias portuguesas para satisfazer necessidades básicas. Sabemos que não são sectores prioritários e que grandes interesses económicos se impõem de forma a que a concentração da riqueza não se desvie do seu caminho nem por um milímetro. Sabemos que há muito a fazer nestes sectores para que todos possamos viver com dignidade e com justiça social.

Assim vai a sociedade portuguesa percorridos que estão, 26 anos de democracia. Neste processo, muitas conquistas democráticas estão hoje seriamente ameaçadas. Só para dar um exemplo, falemos das conclusões da recente cimeira europeia do emprego, onde pomposamente se anunciou que para se conseguir emprego para todos ou maior produtividade se tem de flexibilizar a legislação laboral, facilitando as reconversões empresariais, vulgarmente conhecidas como despedimentos.

À indignação sucede-se a passividade e o conformismo. Esta é, infelizmente, a reacção mais comum. Por isso digo, não basta estar indignado. É preciso ter vontade de mudança. A mim, interessa-me a acção, a iniciativa, mas só uma acção comprometida com outros tem sentido. Uma acção que abra o futuro, que deposite fé nos outros, uma acção cheia de esperança.

2.

Reafirmo publicamente as quatro propostas da campanha para as presidenciais:

  • Promoção de todos os Direitos Humanos
  • Democracia real
  • Preservação do equilíbrio ecológico e da biodiversidade
  • Economia Humanista

Estas são as propostas políticas, mas nós os humanistas importamo-nos com as pessoas e nunca é demais repeti-lo. Como dizia inicialmente preocupa-me a existência humana, concreta, quotidiana. Assim actuaremos sempre, independentemente da conjuntura eleitoralista.

Pedro BragaNeste contexto a nossa proposta é simples. Muitas vezes expomos as nossas ideias sem o temor de ser incompreendidos, outras, sentimos que aquilo que acontece com os outros não nos é indiferente, pelo contrário mexe connosco. Muitas vezes trabalhando em equipa sentimos que o individualismo perde terreno e auguramos a possibilidade de sermos em conjunto protagonistas da transformação da sociedade.

São estas acções que valorizamos, que configuram um estilo de vida, um modo de estar e de actuar no mundo. Esta sensibilidade que procura a coerência pessoal e que se expressa na frase “trata os outros como queres ser tratado” é do mais alto valor moral e sempre orientou a humanidade ao longo da sua história na luta por um mundo melhor.

Vivi esta luta no passado recente, com o desafio da legalização do P.H. Vivo-a diariamente na acção de base, nos bairros, nas universidades, no meu meio imediato, de relação, familiar ou laboral. Reencontro-a na recolha de assinaturas para a apresentação desta candidatura na qual estou comprometido.

É um compromisso e é um desafio porque provavelmente é a candidatura mais jovem de sempre na história da democracia Portuguesa, porque representa todos aqueles que tal como eu, não se sentem representados por estes políticos tecnocratas. É uma candidatura das pessoas comuns que reconhecem os aspectos evolutivos do passado e que aspiram a um sociedade humanista, plural, democrática e descentralizada.

3.

Esta direcção progressista que queremos dar aos acontecimentos enfrenta um mundo construído sem ter em conta o ser humano, no qual a metodologia de acção é a violência.

Este sistema é desumano e é violento:

  • porque promove a concentração do capital na cada vez mais poderosa banca sem fronteiras,
  • porque o trabalho precário e o desemprego atingem a grande maioria da população,
  • porque se desresponsabiliza de sectores tão, importantes como a Saúde e a Educação
  • porque acentua o fosso entre ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres,
  • porque promove uma guerra química contra os jovens, que anestesiados com a álcool e com outras drogas se abstêm de opinar, de intervir e de transformar.
  • porque pede paciência aos portugueses, iludindo e traindo todos os que acreditam no futuro, e que lutam por melhores condições de vida.
  • porque financia guerras e conflitos para escoar os produtos da poderosa industria armamentista.
  • porque desrespeita as mais elementares opções de preservação do equilíbrio ecológico.

Tudo isto gera contradição nas pessoas, contradição entre o que se aspira e o que se vive, entre o que se pensa o que se sente e o que se faz. Na medida em que esta contradição se acentue, experimenta-se como violência. A violência gera insegurança, a insegurança gera contradição num circulo fechado, que caminha para a entrupia, para a ruptura.

Neste contexto o Partido Humanista afirma e eu subscrevo, que a única resposta a este sistema, só pode ser a denúncia sistemática de todas as formas de violência. A não-violência activa é uma estratégia de luta do Novo Humanismo que visa propiciar harmonia, tolerância e solidariedade.

Para finalizar, quero ler a introdução do documento do movimento humanista que na minha opinião define o espirito que nos move e que quero partilhar convosco.

«Os humanistas são mulheres e homens deste século, desta época. Reconhecem os antecedentes do Humanismo histórico e inspiram-se nos contributos das diferentes culturas, não só daquelas que neste momento ocupam um lugar central. São, além disso, homens e mulheres que deixam para trás este século e este milénio e se projectam para um novo mundo.

Os humanistas não querem amos; não querem dirigentes nem chefes, nem se sentem representantes nem chefes de ninguém. Os humanistas não querem um Estado centralizado, nem um Para-Estado que o substitua. Os humanistas não querem exércitos policiais, nem bandos armados que os substituam.

Porém, entre as aspirações humanistas e as realidades do mundo de hoje, levantou-se um muro. Chegou, pois, o momento de derrubá-lo. Para isso, apelo, hoje, aqui à necessária união de todos os humanistas do mundo.»

Nada mais. Obrigado.

Pedro Braga

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