Dia mundial da não-violência – 2007

Convite para evento

No passado dia 15 de Junho, a Assembleia-Geral da ONU, sob proposta da Índia e com o voto favorável de Portugal, instituiu o dia 2 de Outubro como o Dia Internacional da Não-Violência, em homenagem ao Mahatma Gandhi.

 

Gandhi foi um dos cultores da não-violência como método de acção e a sua orientação levou a Índia à independência.

Além dele, devemos recordar hoje aqui outros expoentes da não-violência: Tolstoi, Luther King e Silo.

Silo é a referência actual da não-violência, não só enquanto metodologia de acção, mas também como atitude e modo de relação com os outros.

Silo disse: “Sem fé interior, sem fé em si mesmo, há temor; o temor produz sofrimento; o sofrimento produz violência; a violência produz destruição; por isso, a fé em si mesmo supera a destruição”.

Não há, pois, falsas saídas para acabar com a violência e a paz nunca será o resultado de uma guerra.

A atitude não-violenta baseia-se nesse princípio moral que diz: “Trata os outros como queres ser tratado”.

Não existe princípio mais elevado para guiar a conduta humana. Quando o aplicamos conscientemente, colocamo-nos de imediato como par do outro, nem por cima nem por baixo. E essa colocação mental é a que permite a verdadeira solidariedade e igualdade para coexistir.

Este princípio orienta a nossa aspiração de coerência pessoal, unindo os nossos pensamentos, sentimentos e acções. Permite-nos superar as nossas contradições pessoais e dá lugar a novos pensamentos, novas emoções e novas acções, tanto no campo das relações pessoais como no campo social.

Estes registos parecem ir formando uma espécie de “atmosfera interna”, uma nova forma de se experimentar a si mesmo e à vida em geral, e a conduta violenta, em todas as suas formas, tem dificuldade em criar raízes nesta atmosfera mental.

Com base nessa experiência, é possível conceber no futuro novas configurações da consciência humana, em que todo o tipo de violência provocará repugnância, com os respectivos registos corporais, tal como já nos acontece perante outros fenómenos quotidianos tidos por asquerosos. Essa estruturação de consciência não-violenta poderia chegar a instalar-se nas sociedades como uma conquista cultural profunda. Isto iria mais longe do que as ideias ou as emoções que já se manifestam debilmente nas sociedades actuais, para começar a fazer parte do complexo psico-somático e psico-social do ser humano.

Hoje, juntamo-nos aqui algumas pessoas que têm já um vislumbre desse futuro não-violento, como se no nosso interior vivesse já esta realidade da nação humana universal a que aspiramos.

E, assim, não podemos deixar de evocar aqui o corajoso povo birmanês, que, nestes dias, alçado na reivindicação não-violenta, procura trilhar os caminhos da liberdade e da democracia. Para essa gente, enviamos os nossos melhores desejos de progresso e bem-estar, compreendendo que aquilo que se passa num ponto acaba por afectar outros.

Oxalá o exemplo birmanês inspire e comova os quatro cantos do mundo, para que a rebelião não-violenta se desencadeie, superando a violência e a discriminação anacrónicas protagonizadas quer por ditaduras militares quer por ditaduras do mercado.

Neste dia, tomamos uma pequena parcela do nosso Destino nas mãos e pedimos aos responsáveis políticos para renunciarem expressamente à violência como forma de resolução de conflitos. Hoje, nós, o povo, estamos a fazer a parte que nos toca em prol da evolução humana; esperemos que os nossos líderes façam a deles…

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